ANAMORFOSE

Impressionante a inventividade do inglês Julian Beever e seus desenhos de giz pelas calçadas do mundo. Fotografada de um ângulo único (A), sua arte é intrigante. Veja a mesma fotografia, se suprimimos o desenho da garrafa no chão (B). E tente entender que o desenho da escada, da garrafa e do copo, no chão, é "esticado". Confira-o, visto num sobrevôo de helicóptero (C):

Não é nova a idéia do artista inglês. Veja a belíssima pintura do alemão Hans Holbein (1497-1543), denominada "The Ambassadors" (1533). Repare a estranha forma entre os pés dos dois personagens (1). Vista de um ângulo único (colando-se o rosto à direita do quadro e à altura dos joelhos dos homens), a estranha forma revela-se uma perfeita caveira humana. Veja a fotografia feita desse ângulo (2) e o quadro inteiro na visão enviesada (3):

Para entender melhor o processo de Julian Beever, veja um desenho fotografado no ângulo correto e em um ângulo aleatório. Observe no fundo da segunda imagem a câmara fotográfica posicionada no ângulo correto:

É quase inacreditável que esses objetos não existam acima da "água", mas apenas desenhados a giz, no asfalto! Impressionante ilusão de óptica:

Mais de Julian Beever. A única coisa real nesse foto é ele! O restante é desenho a giz, no chão! Incompreensível! Tente entender que o desenho está esboçado no mesmo plano em que está ajoelhado o artista. Genialidade! Não há outra palavra para definir o desempenho do autor:

Mais recentemente descobri obras anamórficas admiráveis do artista americano Kurt Wenner, tão ou mais impressionantes que os trabalhos de Julian Beever. Veja uma amostra do que ele consegue produzir, magistralmente:

Essas obras-primas do ilusionismo, do hiper-realismo ou do trompe-l'oeil (engana-olho) são todavia muito mais antigas do que Kurt Wenner, Julian Beever e Hans Holbein. Já no século V a. C. os contemporâneos Zêuxis e Parrásio, gregos nascidos em Heracléia e Éfeso respectivamente, rivalizavam-se na criação de surpreendentes pinturas hiper-realistas. Conta-se que eles disputavam o reconhecimento do público e que em uma dessas competições, em Atenas, Zêuxis apresentou um quadro com uvas tão perfeitamente reproduzidas que teriam atraído pássaros, desejosos de bicá-las. E que na mesma ocasião Parrásio apresentou uma tela encoberta por uma cortina. Zêuxis pediu que Parrásio afastasse a cortina e só então percebeu que a cortina era a própria pintura! Diz-se que Zêuxis teve a humildade de reconhecer a vitória de Parrásio no embate. Zêuxis teria comentado: "Enganei alguns pássaros, todavia Parrásio enganou um artista".

Os brasileiros não deixaram por menos. Veja essa foto em um campo de futebol. A publicidade do cartão Visa, ao lado do gol, NÃO está na vertical, como parece, vista de um ângulo único, perto das cabines da imprensa. Trata-se de uma gravura no chão, distorcida para proporcionar essa ilusão de óptica:

Aliás, nós vimos anamorfose a vida toda sem nos darmos conta. Desde o início do cinema isso é conhecido e aplicado, para dar mais comodidade e mais realismo quando se vê um filme naquelas telas grandes e sentado em um ângulo desfavorável (no cinema o espectador não consegue estar no ponto ideal de visão, o centro da tela). Geralmente nós estamos muito fora desse ponto. A anamorfose corrige o problema. Se não fosse a anamorfose, seria muito incômodo assistir a um filme nas fileiras da frente ou laterais do cinema. Observe, leitor, nos seus DVD de filmes. Freqüentemente eles trazem a informação "Formato de tela: ...16x9...widescreen...anamórfico...". Eu aposto que você nunca atentou para isso.


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© 26/05/2006 Atualizada em 28/09/2013